quinta-feira, 19 de abril de 2007

O que há por baixo de uma burka?

Quem me conhece sabe que uma das minhas paixões é a leitura. De vez em quando eu encontro livros que me deixam ainda mais apaixonada. Ontem eu li um desses: Mulheres de Cabul. O livro é tão impressionante que li em 2 horinhas, e olha que são 128 páginas. Não conseguia parar. O livro conta histórias verídicas de mulheres que sofreram sob o regime repressor do Taleban e o que aconteceu com elas após a queda do governo. Sobre como elas foram proibidas de quase tudo, vivendo sob o domínio do medo e sendo espancadas por quase nada.

Uma mulher, Harriet Logan, escreveu o livro. Mulheres contam seu sofrimento. Uma mulher lê e se solidariza. Seria lógico esperar uma crítica feminista indignada. Mas não. Não vou escolher este caminho fácil. Está certo que as mulheres sofreram muito mais com toda esta história, mas quando um país vive sob um regime que impõe terror e brutalidade ao seu povo, ninguém ganha. Nem homens, nem mulheres, nem o futuro.

Pra vocês terem uma idéia, o Taleban proibia, dentre outras coisas: pipas, música e rir em público. Homens não podiam se barbear. Mulheres não poderiam estudar ou trabalhar. Em um país que viveu mais de 2 décadas em guerra, imagina a quantidade de viúvas sem fonte de renda para sustentar a si e aos filhos. Inclusive em um trecho do livro, um grupo de mulheres é preso trabalhando. Quando elas questionam o porquê da prisão, o Taleban alega que elas não têm fé, que deveriam estar em casa sentadas esperando que Alah mandasse comida dos céus. E eu posso apostar que ele não falou isso em tom de ironia ou brincadeira.

O maior acerto do livro foi contar as histórias na forma de depoimentos, em vez de uma narração na terceira pessoa. Cada mulher fala de si. Algumas delas velhas, sofrendo com o câncer e por não ter dinheiro para o tratamento. Algumas jovens, felizes por poderem sair à rua com sua boneca ou por poder voltar a estudar com a queda do Taleban. É fácil simpatizar, parece que você está lendo o diário delas. Imagino que se fossem contadas por uma mulher ocidental de classe média, educada e livre para fazer o que quisesse, tudo soasse como uma fábula, ou como algo distante.

Através do livro, constatei uma coisa incrível. Algumas mulheres não deixaram de usar a burka, mesmo quando podiam fazê-lo. O motivo? A maneira com que os homens nas ruas olhavam para elas, após tanto tempo sem ver um tiquinho de carne feminina. Tem gente que simplesmente não sabe conviver com a liberdade.

Deixo para vocês uma reflexão: Por que o mundo sempre precisa ser dividido em dominantes e dominados? O texto é longo, mas a culpa é do Taleban.

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou realmente muito interessado em ler e deliciar-me com este livro. Agora que minha filhinha Olga e a minha "esposarada" terminaram de ler, chegou a minha vez. Mas meu contato inicial com esta obra, suscitou-me mt interesse. Caso, tenha oportunidade de ler, não perca tempo e o faça. Abraços.